Warner Bros.\ Divulgação |
No início deste mês estreou o tão aguardado e polêmico filme
do Coringa, que sem dúvidas, é o vilão de histórias em quadrinhos mais
conhecido do grande público. O filme contou com exibições no festival de cinema
de Veneza, onde foi aclamado e recebeu o prêmio máximo do festival, como melhor
filme, o que como consequência aumentou e muito a expectativa para o filme.
Vivemos em um
momento bem complicado relacionado a violência, principalmente nos EUA, onde
esse ano houveram vários ataques de pessoas armadas atirando contra multidões,
e houve um certo temor do filme se tornar um “gatilho” para novos ataques,
alguns cinemas reforçaram a segurança na estreia do filme. Acho que a pergunta
que todos que não viram o filme ainda é essa: o filme é realmente violento a
ponto de ter despertado esse tipo de preocupação? É o que vamos discutir neste
artigo.
A violência no
cinema não é algo novo, temos grandes clássicos do cinema que usaram deste
artificio para passar uma mensagem, um exemplo é o filme “A laranja mecânica”,
que pode gerar um desconforto em certos públicos. No filme do Coringa a
violência mostrada é bem mais pelo ângulo social do que física, que é muito
usado em filmes de ação por exemplo. O filme em si não mostra um personagem
destruído, mostra uma sociedade arrasada, com serviços públicos sendo cortados,
o caos instaurado nas ruas e uma elite que claramente não se importa com o que
está acontecendo, pois ainda não foram afetadas.
Claramente o
diretor Todd Philips se inspirou em alguns filmes da década de 70 e 80, “O rei
da comédia” e “Taxi Driver” foram grandes fontes de inspiração para essa obra.
Em Taxi Driver acompanhamos a jornada de um veterano da guerra do Vietnã, que
claramente vive atormentado pelo seu passado e decide se tornar motorista de táxi
para se ocupar, e é apresentada a NY dos anos setenta que foi um período bem
complicado para o povo americano, para não dar mais detalhes sobre o enredo e
estragar a experiência de quem ainda não viu o filme, vou parar por aqui. Em o
Rei da Comédia acompanhamos um comediante em busca da fama, o filme abre um
debate interessante sobre o preço desta e o que as pessoas são capazes de fazer
para alcança-la.
As ações do Coringa
no filme são abomináveis, e em nenhum momento o filme tenta mudar essa visão,
mas em certo momento começamos a ver o mundo pelos olhos de Arthur, um homem
com problemas, que vê seu mundo desabar junto com uma sociedade em ruínas. Ele
em um momento do filme se torna uma espécie de gatilho, para uma reação daquele
povo, que estava sendo penalizado com a falta de serviços públicos de
qualidade, sem segurança adequada e isso desencadeia uma espécie de rebelião contra
o que vinha sendo feito.
Este ano foi marcado por grandes manifestações
populares em vários países do mundo, China, França, Equador e a mais recente no
Chile, que foi desencadeada por mais um aumento na passagem do metrô, mas é de
conhecimento geral que o grande motivo é a insatisfação social que o país vive.
Todos as manifestações foram causadas por um motivo, mas só aconteceram pois já
existia uma insatisfação bem maior sendo necessário um gatilho para que acontecessem,
algo bem parecido com as grandes manifestações que ocorreram no Brasil em 2013.
É sempre bom
destacar que por se tratar de um filme, cabe múltiplas interpretações, vão
existir pessoas que podem usar o filme como gatilho, podem interpretar o caos
social do filme para justificar atitudes de xenofobia. Mas como eu disse, as
pessoas já alimentam essa posição, ou seja, qualquer coisa pode ser um
“gatilho” que estão buscando, não é possível responsabilizar somente o filme por
essa culpa.
Sem dúvidas este
filme será repercutido por muito tempo, é um filme que causa uma reflexão sobre
alguns aspectos sociais que deixamos passar, muitas vezes por estarem fora de
nossa bolha social. Até o próximo
artigo!
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