Você acorda atrasado
e resolve chamar um Uber para chegar no horário no seu trabalho. Na hora do
almoço resolve pedir a sua refeição pelo Ifood e aproveita o tempo e
faz compras pelo Rappi e agenda a entrega. Com a proximidade das
férias aluga uma casa pelo Airbnb. Neste breve relato é possível
observar que somos rodeados por aplicativos de economia compartilhada, que tem
grande aceitação pela facilidade e pelo preço muitas vezes chamativo.
Por ser tão comum no nosso dia-a-dia
muitas vezes não paramos para pensar no funcionamento por trás da facilidade
entregue. Aplicativos se apresentam como intermediários desta negociação, mesmo
tendo total controle sobre os preços e punições em caso de descumprimento de
regras. E cada dia que passa surgem cada vez mais aplicativos do
tipo, esse movimento é chamado por muitos de “ Uberização”, uma clara
reverência ao aplicativo de transporte Uber que hoje é o maior do gênero.
Recentemente a Uber fez um IPO, que é
quando a empresa “entra” na bolsa de valores, foi avaliada em 120 bilhões de
dólares. Após a primeira rodada de negócios o valor ficou em 80 bilhões de dólares,
frustrando muitos que apostavam na empresa. A Uber teve um prejuízo de cerca de
1 bilhão de dólares no primeiro trimestre deste ano, seu CEO chegou a
declarar que a empresa talvez nunca dê o lucro esperado. Até o
momento o crescimento foi sustentado por fundos de investimentos que absorvem
esse prejuízo com a esperança de uma melhora futura. Devemos lembrar que a
empresa tem investimentos em várias áreas da mobilidade, que podem
ser de onde virá o lucro esperado.
Com o IPO, motoristas de
todo o mundo marcaram uma manifestação por melhores condições, os motoristas
alegam que cada dia ganham menos e tem que trabalhar muitas horas
para alcançar valores que cubram todos os gastos envolvidos. De 2014 a 2018
houve uma queda de 53% no salário dos motoristas de aplicativos nos
EUA, segundo a JP Morgan. Para aumentar o ganho dos motoristas a Uber
pode seguir por dois caminhos: diminuir a sua participação nos valores da
corrida, o que seria pouco provável, pois, a empresa
precisa aumentar seu faturamento a longo prazo. A segunda
possibilidade seria o aumento nos preços, que é uma medida delicada devido à alta
concorrência, um aumento poderia ocasionar a migração de
plataforma transporte. Para ser bem aceita teria que ser um movimento de todas
as empresas do setor.
Em um momento de crise econômica e
alta do desemprego, os aplicativos de serviços como Uber, iFood, 99
e Rappi atraem desempregados e pessoas que têm dificuldades para se
inserir no mercado de trabalho com a perspectiva de obter alguma renda. No mês
passado, um estudo do Instituto Locomotiva, publicado pelo jornal O Estado de
S.Paulo, apontou que quatro milhões de pessoas trabalham para essas plataformas
no Brasil hoje 17 milhões usam os serviços regularmente.
A BBC fez uma reportagem especifica
com os entregadores de bicicleta e de moto, e identificou que em média as
motocicletas ganham em média 50% a mais, isso se deve
a bicicleta depender exclusivamente de forca física limitando assim o
número de entregas. De forma geral o discurso dos entregadores em sua
maioria é sobre o benefício do "autogerenciamento" do
trabalho, que é parecido com o adotado
pelas plataformas. Os críticos desse modelo de trabalho alegam que existe uma
terceirização de riscos para o associado, que assume todos
os riscos e não conta com nenhum apoio da empresa do aplicativo.Outro ponto é a
migração de trabalhadores formais para o MEI, pois, buscam um
auxílio caso não consigam trabalhar, eles garantem assim recebimento de 1
salário mínimo por mês em caso de afastamentos médicos. Em 2017 já contam com
7,7 milhões de pessoas segundo o IPEA, isso agrava a situação da previdência, pois, o valor de
contribuição é em média 5% do
salário mínimo.
Um fato muito debatido no
início de operações do Uber, era a possibilidade de melhora no
trânsito, pois, as pessoas poderiam deixar o carro em casa e usar os
aplicativos de mobilidade. Mas, de acordo com estudo do órgão controlador
de trânsito na cidade de São Francisco.(San
Francisco County Transportation Authority), nos Estados Unidos,
não é isso que está acontecendo. Pelo contrário: aplicativos como Uber
e Lyft fizeram com que o trânsito piorasse nos últimos anos nas
grandes cidades americanas. A pesquisa mostra que a maioria das viagens
feitas por aplicativos de transporte acontece nas áreas mais
congestionadas da cidade, e nos piores horários do dia.
Outro aplicativo que está enfrentando
problemas com várias cidades é o Airbnb, pois, ele é
apontado como principal responsável por encarecer os preços dos aluguéis e de
serviços básicos, forçando moradores de bairros tradicionais a mudar para onde
o turismo ainda não tem influência sobre o custo de vida. De forma simplificada
os donos de casa preferem alugar para turistas, se torna mais lucrativo do
que alugar para moradores e podem cobrar preço mais alto, como
consequência inviabiliza que moradores da localidade morem nestas
áreas. Os países como França, Inglaterra, Portugal e os Estados Unidos já
tem varias cidades que estão estipulando regras específicas para essa
modalidade de aluguel.
Esse artigo não é para criticar a forma
de trabalho destes aplicativos, é para trazer o outro lado que muitas
vezes não paramos para pensar. É inegável como esses aplicativos mudaram várias
áreas de nossa vida , e tenho certeza que continuarão mudando, mas terão que
evoluir o modelo de negócio para serem sustentáveis e benéficas para
os associados.
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